América central (cultura Maya)
A principal divindade Maya, chamada Coração do Céu, depois de ter criado o mundo, as árvores, as gramas, todas as criaturas do mar, os pássaros e os animais da terra, restou com algo importante faltando fazer, que era criar a humanidade. Coração do Céu fez, então, várias tentativas usando materiais comuns, como lama, madeira e, finalmente, pedra; entretanto, todas as tentativas foram mal sucedidas. Eventualmente, usando ingenuidade e criatividade, Coração do Céu formou um ser humano usando materiais diferentes produzidos pela natureza: água, terra, madeira, milho, muitas frutas e cacau. E assim, os humanos passaram a ter o cacau como um dos seus ingredientes essenciais.
América central (Quetzalcoatl)
Conta um mito que foi Quetzalcoatl – nome que significa “pássaro serpente” – quem primeiro trouxe sementes de cacau do Jardim do Éden para Terra. Para os Astecas, Quetzalcoatl tinha a imagem de uma estranha serpente emplumada, e era uma das divindades mais respeitadas e veneradas na mitologia de América Central antiga (desde a cultura Maya, onde era conhecido como Kukulkan). Esta divindade teria ensinado para os homens a arte de agricultura, da medicina, e do cultivo do cacau. Ela não gostava de rituais de sacrifício humano, amava as pessoas e era adorada por elas.
América do Sul (Peru)
Khuno, o deus das tempestades, destruiu uma aldeia com chuva torrencial e granizo porque ele estava bravo com seus habitantes devido ao fato deles atearem fogo na floresta, após derrubarem as árvores, para clarear a terra e cultivar alimentos. Quando cessou a tempestade, os sobreviventes encontraram uma árvore de cacau. Este fato teria marcado o começo do cultivo do cacau na região. O cacau mostrou, então para estas pessoas como se alimentar e viver em harmonia com as árvores e a natureza.
América do Sul
(Um mito, originário do norte da cordilheira dos Andes, fala do papel crucial do cacau para o restabelecimento do equilíbrio da natureza, após um deus ganancioso ter arrebatado para si todas as suas propriedades)
A estória começa com um deus onipotente chamado Sibu que tinha poderes para criar homens e animais a partir de sementes. Sibu transferiu seus poderes para outro deus, Sura, lhe entregando suas preciosas sementes. Sura enterrou as sementes e deixou o local por um breve período. Infelizmente, enquanto ele estava fora, uma terceira divindade, um anjo mal chamado Jabaru, desenterrou as sementes e as comeu, não deixando nada para o trabalho de criação de Sibu e Sura. Quando o pobre Sura retornou, foi morto por Jabaru, que lhe cortou a garganta e enterrou o corpo no local onde anteriormente estavam as sementes. Satisfeito com o que havia realizado, Jabaru deixou o local e retornou para casa, para junto das suas esposas.
Passado algum tempo, o malvado Jabaru retornou ao local, tendo então constatado que, sobre a sepultura de Sura, haviam crescido duas árvores estranhas: um cacaueiro e um pé de cabaça. Ao lado das árvores, quieto, estava o deus onipotente Sibu, o qual, quando viu a entidade do mal se aproximando, ordenou que lhe preparasse um copo de bebida a partir das sementes do cacaueiro. Jabaru apanhou um fruto de cacau repleto de amêndoas e uma cabaça e os levou às suas esposas, que prepararam a bebida e retiraram o miolo da cabaça, enchendo-a em seguida com a rica bebida. O perverso Jabaru levou o recipiente cheio de volta para Sibu, o qual, educadamente, falou: “Não, você bebe primeiro”. Jabaru concordou de pronto, e bebeu avidamente a bebida deliciosa, tão rápido quanto pôde. Mas o prazer da bebida se transformou em agonia, vez que o cacau nascido do corpo do bom Sura fez a barriga de Jabaru inchar e inchar, até estourar como uma bolha, deixando cair no chão todas as sementes que havia roubado. Sibu restabeleceu então a vida do seu amigo Sura, lhe devolvendo as sementes, e assegurando deste modo que todos os humanos e animais possam nascer e crescer, para desfrutar toda a generosidade da Terra, tudo a partir dessas preciosas sementes.
Obs: Não obstante o passar dos séculos, a mitologia do cacau permanece contemporânea, remetendo para as questões ambientais que afetam o nosso planeta. O próprio desejo de consumir cacau e chocolate é como se fosse um mito que se perpetua ao longo do tempo. Como regra, as lendas fazem referência a cacauicultura como a alternativa dos deuses para produzir o melhor alimento, sem agredir a natureza: quando o homem começa a agredir a natureza – eliminando florestas e abusando de recursos naturais – surge imponente o cacaueiro, com seus frutos e sementes, para restabelecer harmonia ambiental.
Lendas do Theobroma cacao
Cacau energético.
Quando o conquistador espanhol Hernan Cortes esteve na cidade asteca de Tenochtitlan (hoje Cidade do México) em 1519, ficou impressionado com o poder energético de uma bebida achocolatada servida pelo povo asteca, então comandado pelo imperador Montezuma (Motecuhzoma Xocoyotzin): Um simples copo permitia ao soldado caminhar um dia inteiro, sem precisar que qualquer outro alimento.
Cacau afrodisíaco.
Consta que os soldados astecas (considerado um povo bárbaro) eram alimentados com chocolate natural antes e durante as batalhas. Depois da conquista das cidades, a bebida lhes era retirada, para evitar que molestassem demasiadamente as mulheres… Desde aquela época o cacau já era conhecido como afrodisíaco, sendo que o próprio imperador Montezuma tomaria até cinqüenta copos da bebida por dia, antes de visitar seu harém…
Cacau: dinheiro que se come…
A moeda corrente entre os Astecas era o cacau. O tesouro do imperador Montezuma (Motecuhzoma Xocoyotzin) não era composto por ouro, mas por 960 milhões de amêndoas de cacau, o dinheiro que nascia em árvore! O pagamento de todos os militares e servidores do império era feito em cacau. Como em condições favoráveis as amêndoas de cacau desidratado podem ser conservadas por mais de 3 anos, isto as tornavam ideal para uso como moeda corrente.
Alguns preços praticados pelos Astecas, por volta de 1.545:
• Peru (macho = 200 amêndoas e, fêmea = 100 amêndoas)
• Coelho = 100 amêndoas.
• Abacate = ovo de peru = 3 amêndoas.
• Manta de algodão feita a mão = 65 a 300 amêndoas.
Cacau continuou sendo usado como moeda corrente no México até 1887.